JAIME PRADES
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MARIA IZABEL B. RIBEIRO 1997
Curadora e diretora do MAB/FAAP


JAIME PRADES

Embora a maioria dos paulistanos não associem o nome de Jaime Prades ao seu cotidiano, seu trabalho vem fazendo parte da paisagem urbana desde que iniciou sua atividade de artista em 1984. Entre apressados e distraídos, todos nós já nos deparamos com seus personagens pelo menos nos muros da cidade, em adesivos de vidros de automóveis e em out-doors. Sem nomes que os identifiquem e talvez sem reconhecer seu autor é certo que vemos como sendo obra de um mesmo autor e talvez até tenhamos cismado com seu significado. Em algumas ocasiões era possível agrupá-los em famílias.

Algumas incluíam bonecos bidimensionais com contornos bem delineados em preto, corpos em arabescos, cores brilhantes, três olhos, às vêzes cinco pernas e quase sempre sorrisos largos. Outras apontavam corpos globulares, pernas e braços em esforço de corrida, sugestões de volume, rabinhos agitados, labirintos de adornos, cores diretamente vindas das latas de tinta automotiva, ou ainda engenhocas e robozinhos de acabamento impecável e bom humor a qualquer prova. Apesar de não se repetirem, seu parentesco tornava-os facilmente localizáveis.

Essas criaturas surgiram na rus e lá ganhavam vida própria, aonde o trabalho de Jaime se formou e era veiculado. Contemporâneas da chegada de sua primeira filha e da sua participação no grupo "Tupinãodá" a multidão de personagens eram representativas das peculariedades do grupo e de suas características pessoais. Significavam a retomada do universo infantil e o exercício escuso de grafitar os muros da cidade na calada da noite, ao mesmo tempo ainda aventura de adolescente rebelde e desejo de mostrar o trabalho em andamento.

Se por um lado sua pesquisa plástica revelava molecagem de turma, marcava também a intenção de utilizar imagens de comunicação rápida, com referenciais vagos mas facilmente identificáveis e de apropriar-se de espaços não convencionais para suporte da obra, retirando-a do átrio fechado de museus e galerias, para trazê-la próximo de gente que possivelmente não pensaria em visitar uma exposição. Talvez muitos não atinassem com o objetivo das propostas, mas sem dúvida a intenção de divulgá-las era atingida.

Essa atividade era contemporânea ao movimento do grafite nova-iorquino de se afirmar como elemento constitutivo do vocabulário pictórico da década, ultrapassando o muro do viaduto para alcançar paredes de espaços institucionalizados. Se o gesto do grafiteiro não mais precisou ser furtivo, sua espontaneidade, o uso de máscaras, a tinta industrial, as cores chamativas, os caracteres e as letras passaram a integrar a linguagem de diversos artistas dos anos '90.

Dentro dessa tendência, Jaime Passou a desenvolver pesquisa de atelier em paralelo ao seu trabalho de rua, aproveitando tanto os personagens como as suas características. Hoje sua atuação guarda as feições dos elementos que a motivaram dez anos atrás, mas definiu-se como prática devotada às discussões da questão plástica. Conserva aspectos da visualidade urbana, alude à comunicação de massa e a perfeição técnica distanciando a mão do artista contribuem para que sejam detectadas as influências que recebeu da Pop-Art. Se seus objetos recortados em madeira ou moldados em fibra de vidro se apresentam como equivalentes tridimensionais dos seres que povoavam os muros das cidades, seus correlatos quando feitos em ferro ou fundidos em bronze assumem feições híbridas de esculturas, em que o peso do material e a seriedade normalmente associada ao procedimento técnico, criam estranhamento e fazem pensar tanto nas ambigüidades da paródia como em sua velha intenção de aproximar-se do seu público.

Curiosamente a pintura de Jaime Prades aponta um caminho diverso do seguido dos seus objetos. Afirma que a precisão tão perseguida em seus objetos tridimensionais era fator de impedimento em suas telas. As cores definidas e vibrantes de seus múltiplos quando usadas em superfícies bidimensionais eram motivo de desagrado. Os resultados satisfatórios só foram atingidos depois que camadas de tinta à óleo, acrílica e pigmentos diversos formavam uma história na superfície da lona, onde com incisóes pode resgatar o passado e conformar o presente. Seu procedimento atual exige tanta presteza do grafiteiro e seu imaginário ainda versa sobre o universo urbano, não abordando apenas o circunstancial e a ficção do futuro, à maneira do cartoon. Talvez ainda adote a postura do grafiteiro, que não encara mais seu suporte como o muro branco imaculado, mas que percebe suas manchas como testemunho do tempo e vê cada inscrição como uma etapa de permanência determinada. A ação física de espalhar carvão sobre a tinta úmida, lavar, raspar, demanda uma duração, permitindo a construção e o resgate de camadas de matéria/tempo. Ainda lança mão de personagens como porta-vozes e ainda lhes dá caráter urbano, porém ao empalidecer as cores, cegar as feições, sujar a superfície e expor suas estruturas deixa evidente que busca sua essência. Retira de suas faces elementos que os identifiquem com os meios de comunicação, aproximando-os de incisões rupestres e tornando-os uma espécie de ancestrais de si mesmos, silenciosos e presentes como os muros da cidade.

Maria Izabel Branco Ribeiro
Abril/97