JAIME PRADES |
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O QUE SEI DE PRADES
Fabio Malavóglia, poeta e radialista. Texto publicado na revista GRÁFICA ARTE INTERNACIONAL 89/90, em outubro de 2013.
Foi no repique criativo dos anos 80, quando a bola dos sixties foi rebatida por novo rebote dionisíaco, com performances, punk rock e intervenções, com teatro físico e beijos na platéia, com space opera nos filmes e novas liberdades na rua, que Jaime Prades, emergiu na arena das artes, na energia e nos grafittes da Paulicéia desvairada. Ao parto do artista precede uma gestação: nas cores de Espanha da sua infância, no mundo paterno das produções de cinema, na São Paulo ditatorial da adolescência. Aos quinze anos o desenho e a gravura se apresentam, a marcenaria lhe ensina os rudimentos do tridimensional, pintura e artes gráficas são os anfitriões de seus 20. Sua energia desde sempre é febril: aos 26 inaugura, com José Carratu, o irrequieto, caótico, hiper-criativo ateliê Tupinãodá, com cujos artistas compartilha 5 anos de aventuras, muitas delas nas ruas. São eles, mais um punhado de poucos, os pioneiros do grafitte em São Paulo, são eles que ocupam e pintam os túneis da Avenida Paulista e o “bat-beco” da Vila Madalena, são eles que levam vibrações vitais à exposição-evento A Trama do Gosto, na Bienal; ao MAC, à Pinacoteca, à galeria Subdistrito na histórica mostra “Tupinãodá”! Aqui abra-se um parênteses para algo pouco dito nestes 30 anos de catálogos, críticas, resenhas, reportagens e textos sobre a arte de Prades bem como sua pessoa: são super bem humoradas. Suas obras se destacaram, de início, do panorama ao redor, por explodirem numa alegria pop, de hilários bípedes-comix, insetos semi-dadás, robôs cor de pop-chapado, em orgias procriativas, para dentro da arte, como um virus, como outrora anotou este escriba. Não ficou, porém, só nisso, no espatifar feliz da tinta no muro. O artista alegre era também obsessivamente persistente. Escalou a íngreme encosta das linguagens, a mãos nuas, passo a passo, da arte da rua ao objeto-escultura, do rolo-de-pintar ao laser corta-aço, em painéis de severa pedra ou recortes de negro metal, no austero hall do Centro Cultural São Paulo, nos salões d’A Lanterna, pintando o próprio aprendizado das texturas, das têmperas, das cores, do geométrico ao orgânico, do singular ao múltiplo, do brutal ao finíssimo sutil, punhal virtuoso, golpe d’arte. Seu trabalho de ateliê foi ao MASP, entrou nas coleções e nos acervos dos marchands, foi exposto em Tóquio. Vinte mil mini esculturas rodaram o mundo, dos States à Europa. Na virada para o terceiro milênio ele revisita sua origem – o espaço urbano, a metrópole feérica – com olhos transformados pela trajetória. Uma exaltação da vida encara nossa cultura de máquinas, de poder, de consumo e de morte, e ousa devorá-la para ressuscitá-la. Dos dejetos urbanos, dos detritos, das pedras “que os construtores desprezaram”, Prades se aproxima, as refaz em arte, como nas árvores imensas feitas dos restos das florestas, sobras da madeira que nosso mundo abusa e queima. Como nas minúsculas cenas inscritas sobre pedaços de argamassa abandonada. Como nas estátuas, imagens, assemblages e totens montados com resíduos, descartes, fragmentos, vestígios arqueológicos do agora. No que já não vale para ninguém, no que todos rejeitam, esquecem ou enterram, nos submundos do mundo, Prades busca o ouro, a gema imperecível, o cristal puro da criação regenerada. Seus trabalhos são as pegadas dessa demanda, tão dele, e no entanto nossa; tão própria, e no entanto ampla; tão só, e no entanto tanto. |
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